quarta-feira, 4 de julho de 2007

Já dançou trance?

A nova onda do psy-trance mistura Woodstock, circo e tecnologia em festas que duram até uma semana

Camilo Rocha

O estilo nasceu nas praias de Goa, na Índia. Os maiores astros vêm de Israel. As festas em geral acontecem muito longe das grandes metrópoles e duram dias a fio, com a música tocando sem parar. Ainspiração está em Woodstock. O astral mescla o espírito dos hippies à tecnologia digital. O resultado dessa mistura excêntrica atende pelo nome de psy-trance, ou trance psicodélico, ou ainda, na abreviação que está na boca da galera, psy. Opsy é hoje o estilo de música eletrônica mais popular no Brasil.

Há dezenas de festas ao ar livre, festivais e noites em clubes pipocando de Manaus a Porto Alegre. Gigantes do meio, como as raves paulistanas XXXPerience e Tribe, atraem facilmente de 20 mil a 25 mil pessoas em cada edição. Festivais menores em lugares remotos, como o Universo Paralelo, realizado em Ituberá, sul da Bahia, ou o Trancedence, em Alto do Paraíso, Goiás, costumam atrair milhares de jovens de 15 a 25 anos - ou até mais velhos -, vindos de todo o país. Nada mal para um estilo que praticamente não toca no rádio, é ignorado pelos meios de comunicação e raramente conta com patrocínio de grandes empresas.

Vários motivos explicam tanto sucesso. Primeiro, o psy quebra a sisudez das festas embaladas nos últimos 20 anos pelos gêneros eletrônicos, como drum'n'bass ou tecno. Segundo, a atmosfera das raves evoca os efeitos de um transe lisérgico: é alegre e lúdica e não esconde o sabor de revival dos anos 60. Terceiro, a música soa mais acessível que a das raves dos anos 90. Serve de porta de entrada tanto para a moçada como para gente mais madura, tornando a diversão mais democrática. Finalmente, o ambiente eufórico e informal faz parte do espetáculo. As festas não acontecem em galpões fechados ou escuros, mas a céu aberto, em lugares paradisíacos, promovendo o encontro dos participantes com a natureza. Os eventos costumam contar com superprodução. Os organizadores investem em decoração e nas fantasias de artistas de circo, como malabaristas ou engolidores de fogo, para animar a imensa pista ao ar livre. No tecno e na house music, o público gosta de se concentrar na música. No psy, predominam o visual espalhafatoso, a exibição dos corpos e a variedade sonora.

O deejay Rica Amaral é o brasileiro mais bem-sucedido na onda psy. "O trance pegou por causa das festas ao ar livre. Elas trouxeram muita gente ä para a música eletrônica e acabaram na mão do pessoal do trance", diz ele. Rica, um ex-dentista, também é um dos pioneiros do psy-trance no país. No fim de 1996, fez uma festa com amigos que reuniu 700 pessoas num sítio. Chamava-se Rave XXXPerience. Atualmente, essa é a maior marca do psy-trance. Já promoveu mais de 80 festas por todo o Brasil e lançou dois DVDs, que, juntos, venderam cerca de 10 mil cópias. Outro nome que tem feito sucesso no psy brasileiro também é sócio da festa: o deejay Feio, que antes desenhava roupas de surfe. "As festas ao ar livre fazem as pessoas sair da vida urbana e conectar-se com a natureza", diz ele. Rica e Feio têm agenda cheia no Brasil e se apresentam no exterior com regularidade.

Na Europa, o trance psicodélico surgiu como uma manifestação de contracultura, uma espécie de vertente neo-hippie dentro da música eletrônica. Até hoje, o caráter lá fora permanece alternativo. As festas são freqüentadas por legiões que vivem em trailers e ganham a vida vendendo roupas e acessórios nos eventos. No Brasil, o sucesso do trance já alcançou outro patamar. Há comerciais de festas na TV e os eventos atraem jovens de classe média que moram com os pais e têm carro importado. O deejay Rica Amaral chegou a aparecer em um episódio do Big Brother Brasil no ano passado. Outro sinal do sucesso será a tenda própria dedicada ao psy-trance no festival Skol Beats em São Paulo, a cargo da equipe da Tribe.

Um comentário:

Rufio disse...

o que faltou nesse post é dizer que cada festa rave gera diretamente e indiretamente centenas de empregos.

vlw
as raves não podem parar!