quarta-feira, 20 de junho de 2007

GESTORES DE SAÚDE E ATIVISTA CONSIDERAM REPORTAGEM DE JORNAL TENDENCIOSA E DIZEM QUE PANFLETO DE REDUÇÃO DE DANOS NÃO INCENTIVA USO DE DROGAS


Panfletos de redução de danos são para públicos específicos e a política existe desde de 1998. Estas foram as principais justificativas de ativista e gestores de saúde ouvidos pela reportagem sobre a polêmica divulgada pelo jornal Folha de S.Paulo: Panfleto para a Parada Gay orienta como cheirar cocaína. A maioria criticou a publicação por ter destacado apenas os pontos negativos sobre o assunto e ponderou que o texto do material gráfico poderia ser melhor redigido.
“O folheto é dirigido a um público específico, de acordo com a política de redu
ção de danos. Ele poderia ser redigido de melhor forma, mas não incentiva o uso de drogas”, disse Maria Clara Gianna, coordenadora do Programa Estadual de DST/Aids de São Paulo.

A gestora de saúde informou ainda que o texto do folheto não foi submetido à análise do órgão estadual. “Destinamos verbas à Parada e eles decidem como alocar os recursos e como produzir os materiais gráficos”, explicou.

Maria Clara disse que o jornal poderia ter destacado também os pontos positivos sobre a política de redução de danos.

“O jornal deu um peso muito grande para uma ação específica. O governo federal apóia as iniciativas de redução de danos e acho que o panfleto não fere a lei, só poderia ter um texto melhor redigido”, ponderou o diretor-adjunto do Programa Nacional de DST/Aids, Eduardo Barbosa.

“Depois de mais de 20 anos de Aids, ainda se mantém essa visão conservadora em relação à saúde pública. Deveríamos estar em outro nível de discussão sobre redução de danos. É uma postura muito retrógrada achar que informar é ensinar ou incentivar a utilizar drogas”, disse a vice-presidente do Reduc (Rede Brasileira de Redução de Danos e Direitos Humanos), Daniela Trigueiros.

Já a Associação Brasileira de Redutores e Redutoras de Danos, Aborda, divulgou nota criticando o jornal. “Longe de qualquer tipo de incentivo à drogadição, o que se defende é que as ações de promoção de saúde devem levar em consideração a realidade, e não nossos desejos de um mundo ideal e perfeito. Não obstante, as declarações impressas nas páginas da Folha parecem falar de um mundo no qual todos bebem água pura, comem legumes e verduras e fazem exercícios regulares. Não obstante, sabemos que a realidade é diferente. As pessoas, independente de gostarmos disto ou não, são adeptas de diversas práticas insalubres; é com esta realidade que devemos nos relacionar, e não com uma fantasia ideal e inexistente.”, afirmou a organização não-governamental.


Rodrigo Vasconcellos e Maurício Barreira

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