quinta-feira, 5 de julho de 2007

Fapesp libera verba para estudo polêmico sobre ecstasy


O projeto “Baladaboa”, que criou panfletos direcionados a universitários e freqüentadores de casas noturnas com orientações polêmicas sobre como diminuir os riscos ao usar o ecstasy, vai continuar. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), decidiu retomar os repasses dos recursos para a pesquisa, que haviam sido cortados.


A Fapesp havia suspendido no dia 18 de junho a liberação de verbas, após reportagem publicada pelo G1 que falava sobre a distribuição dos panfletos em universidades e casas noturnas. Por meio de uma nota, a fundação disse, na época, que a verba foi suspensa para que o projeto fosse averiguado. Do total de R$ 68.312,68 previstos para o estudo, R$ 13.663,85 foram bloqueados.

Em nota oficial divulgada nesta quarta-feira (4), a Fapesp informou que vai autorizar a continuidade do projeto “até o final de sua vigência”. “O objetivo desta autorização é permitir que as pesquisadoras responsáveis possam dar conclusão ao projeto, realizando a análise quantitativa e a avaliação estatística das informações coletadas na pesquisa”, diz o documento.

O "Baladaboa" criou oito tipos de panfletos para ser distribuído aos jovens. Um deles, por exemplo, informa que uma alternativa para diminuir os riscos da droga sintética “é tomar metade da dose planejada, aguardar os efeitos (pode demorar até 1h) e então decidir se tomará a outra metade”.

A decisão de autorizar a continuidade foi tomada pelo Conselho Técnico-Administrativo (CTA) da fundação, em reunião com a presença do presidente da Fapesp, Carlos Vogt, e dos diretores da entidade. O CTA também decidiu que a pesquisa deverá apresentar um relatório complementar.

“A gente só pode ficar feliz com essa decisão, porque vai poder fechar o estudo. Tínhamos muito material e é importante dar fôlego para essa análise e chegar às conclusões. Não queríamos ver isso abortado”, afirmou a professora da Universidade de São Paulo (USP) Maria Teresa Araujo Silva, que supervisiona o estudo.

A política de redução de danos divide opiniões. “Não há unanimidade em torno do que se deva fazer sobre o consumo de drogas. Por isso, queremos estudar”, disse Maria Teresa.

Depois que teve o projeto suspenso, a pesquisadora recebeu apoios de muitos membros da comunidade científica.
Um abaixo assinado pela manutenção do projeto contabilizava nesta quarta-feira 980 assinaturas.

Entre os apoios recebidos está uma carta da Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP) publicada no site do projeto e carimbada pelo presidente da entidade, Brigido Vizeu Camargo.

A molécula de ecstasy é uma metanfetamina, um parente químico muito próximo das anfetaminas, e funciona como estimulante. Segundo os especialistas, a droga tem o efeito de manter a pessoa acordada e agitada e libera serotonina, que regula o humor.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Já dançou trance? - continuação

Camilo Rocha

As festas chegam a abrigar 25 mil pessoas em cidades do interior e a durar sete dias sem parar


Apesar de tudo, o êxito galopante não agrada a todos. De acordo com o deejay Marcelo VOR, um dos mais conceituados na cena trance, "existem duas linhas de artistas: a dos que vão para o lado farofa e a outra, séria". Entre estes últimos, Marcelo inclui nomes como Audio-X e Wrecked Machines. Na categoria "farofa" estaria, segundo ele, Skazi, deejay e produtor israelense que hoje garante festa cheia em qualquer canto do Brasil. O apelo de Skazi é exibir atitudes de roqueiro e produzir versões psy para faixas do estilo heavy metal. Ele não fala em valores neo-hippies, muito menos em transcendência ou psicodelismo. Prefere se autodenominar o "Axl Rose do trance".

Muitos enfatizam, porém, a opção pelos valores originais da tradição psicodélica, como amor, paz e respeito. É o caso do festival Universo Paralelo, realizado pelos irmãos Dario e Juarez Petrillo (o deejay Swarup), de Brasília. A última edição levou 5 mil pessoas por oito dias para o sul da Bahia, onde foi montada uma minicidade com cibercafé, apresentações de música regional, teatro, cinema e até mesmo uma unidade de reciclagem de lixo. "Em oito dias, não tivemos nenhuma ocorrência de violência, não aconteceu uma briga," afirma Dario.

Mesmo assim, o psy é visto com reservas pelos fãs de outros gêneros de música eletrônica. A história do psy quase sempre esteve descolada do restante. Ao contrário do que acontece com o house ou o tecno, os deejays de psy-trance nunca foram apegados ao disco de vinil. A música deles não tem conexão com um passado de som negro e baseado no ritmo. As referências mais ecléticas talvez levem os praticantes a renunciar à criatividade e à improvisação ao vivo, traços essenciais nas festas eletrônicas do passado.

O formato digital sempre foi o preferido pelos praticantes do psy. No início, os deejays tocavam com DATs (fitas de áudio digital, normalmente usadas por estúdios). Atualmente, quase todos usam o CD. Também há um intenso intercâmbio de músicas entre deejays e produtores de todo o mundo, e uma fome constante por música nova. O deejay Marcelo VOR afirma que hackers já entraram em seu computador e roubaram produções suas exclusivas.

Mas, no meio das massas dançantes, ninguém parece ligar muito para esses problemas. Com a combinação de pistas lotadas, filosofia neo-hippie, violência zero e lugares ecologicamente encantadores, o psy-trance segue animando centenas de milhares de fãs brasileiros. Modismo ou não, tem força e popularidade para durar anos. Afinal, esse gênero emergente inclui qualquer tipo de música e atinge todas as tribos. Melhor de tudo, a pista de dança é feita de terra



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Já dançou trance?

A nova onda do psy-trance mistura Woodstock, circo e tecnologia em festas que duram até uma semana

Camilo Rocha

O estilo nasceu nas praias de Goa, na Índia. Os maiores astros vêm de Israel. As festas em geral acontecem muito longe das grandes metrópoles e duram dias a fio, com a música tocando sem parar. Ainspiração está em Woodstock. O astral mescla o espírito dos hippies à tecnologia digital. O resultado dessa mistura excêntrica atende pelo nome de psy-trance, ou trance psicodélico, ou ainda, na abreviação que está na boca da galera, psy. Opsy é hoje o estilo de música eletrônica mais popular no Brasil.

Há dezenas de festas ao ar livre, festivais e noites em clubes pipocando de Manaus a Porto Alegre. Gigantes do meio, como as raves paulistanas XXXPerience e Tribe, atraem facilmente de 20 mil a 25 mil pessoas em cada edição. Festivais menores em lugares remotos, como o Universo Paralelo, realizado em Ituberá, sul da Bahia, ou o Trancedence, em Alto do Paraíso, Goiás, costumam atrair milhares de jovens de 15 a 25 anos - ou até mais velhos -, vindos de todo o país. Nada mal para um estilo que praticamente não toca no rádio, é ignorado pelos meios de comunicação e raramente conta com patrocínio de grandes empresas.

Vários motivos explicam tanto sucesso. Primeiro, o psy quebra a sisudez das festas embaladas nos últimos 20 anos pelos gêneros eletrônicos, como drum'n'bass ou tecno. Segundo, a atmosfera das raves evoca os efeitos de um transe lisérgico: é alegre e lúdica e não esconde o sabor de revival dos anos 60. Terceiro, a música soa mais acessível que a das raves dos anos 90. Serve de porta de entrada tanto para a moçada como para gente mais madura, tornando a diversão mais democrática. Finalmente, o ambiente eufórico e informal faz parte do espetáculo. As festas não acontecem em galpões fechados ou escuros, mas a céu aberto, em lugares paradisíacos, promovendo o encontro dos participantes com a natureza. Os eventos costumam contar com superprodução. Os organizadores investem em decoração e nas fantasias de artistas de circo, como malabaristas ou engolidores de fogo, para animar a imensa pista ao ar livre. No tecno e na house music, o público gosta de se concentrar na música. No psy, predominam o visual espalhafatoso, a exibição dos corpos e a variedade sonora.

O deejay Rica Amaral é o brasileiro mais bem-sucedido na onda psy. "O trance pegou por causa das festas ao ar livre. Elas trouxeram muita gente ä para a música eletrônica e acabaram na mão do pessoal do trance", diz ele. Rica, um ex-dentista, também é um dos pioneiros do psy-trance no país. No fim de 1996, fez uma festa com amigos que reuniu 700 pessoas num sítio. Chamava-se Rave XXXPerience. Atualmente, essa é a maior marca do psy-trance. Já promoveu mais de 80 festas por todo o Brasil e lançou dois DVDs, que, juntos, venderam cerca de 10 mil cópias. Outro nome que tem feito sucesso no psy brasileiro também é sócio da festa: o deejay Feio, que antes desenhava roupas de surfe. "As festas ao ar livre fazem as pessoas sair da vida urbana e conectar-se com a natureza", diz ele. Rica e Feio têm agenda cheia no Brasil e se apresentam no exterior com regularidade.

Na Europa, o trance psicodélico surgiu como uma manifestação de contracultura, uma espécie de vertente neo-hippie dentro da música eletrônica. Até hoje, o caráter lá fora permanece alternativo. As festas são freqüentadas por legiões que vivem em trailers e ganham a vida vendendo roupas e acessórios nos eventos. No Brasil, o sucesso do trance já alcançou outro patamar. Há comerciais de festas na TV e os eventos atraem jovens de classe média que moram com os pais e têm carro importado. O deejay Rica Amaral chegou a aparecer em um episódio do Big Brother Brasil no ano passado. Outro sinal do sucesso será a tenda própria dedicada ao psy-trance no festival Skol Beats em São Paulo, a cargo da equipe da Tribe.

Balance em concentração...


Balance se reunindo durante a ação de Redução de Danos no 7º Festival de Cultura e Arte, Universo Paralelo.

COLETIVO BALANCE NO 7º FESTIVAL DE ARTE E CULTURA ALTERNATIVA, UNIVERSO PARALELO

Espaço do Coletivo Balance no Universo Paralelo. Trabalho realizado em conjunto com o Posto de Saúde, sendo o espaço do Balance um anexo do Posto Médico

ATUAÇÃO DO COLETIVO BALANCE REDUÇÃO DE DANOS NAS FESTAS DE MÚSICA ELETRÔNICA EM SALVADOR - BA

terça-feira, 3 de julho de 2007

Manifesto em Defesa da Redução de Danos


Desde a década de 80 estamos acompanhando, no Brasil, vários avanços significativos no campo do uso de drogas, a partir da adoção gradual da perspectiva da Redução de Danos, seja pelos governos seja por organizações da sociedade civil, tornando-se inclusive uma política pública oficial no nosso país, regulamentada por decretos, portarias e leis.

A perspectiva da Redução de Danos da qual falamos, está em consonância com princípios fundamentais da promoção da saúde e da cidadania, pautadas em consensos do campo dos Direitos Humanos, especialmente do direito à Saúde, presente na Constituição Federal do Brasil e nos fundamentos e diretrizes do nosso Sistema Único de Saúde – SUS.

A perspectiva da Redução de Danos da qual falamos, tem possibilitado avanços significativos na redução da infecção pelo HIV e hepatites virais; na adoção de estratégias de prevenção, cuidado e auto-cuidado, comprometidas com as pessoas enquanto cidadãs; na possibilidade de tratamento digno e respeitoso, que leve em consideração as pessoas e sua autonomia, também no processo de busca por cuidados à saúde, como tem nos ensinado os processos de reforma sanitária e psiquiátrica.

A perspectiva de Redução de Danos da qual falamos, nos coloca diante do fracasso das concepções e intervenções polarizantes, que simplificam demais a existência humana, evidenciando que a questão não é apenas de ser contra ou a favor das drogas, mas sobretudo é necessário acolher e aceitar as pessoas que usam.

Adotar a Redução de Danos não é incentivar o uso, nem deixar as pessoas usarem - pensávamos que esse era um debate superado. É incentivar o Cuidado, a Saúde e a Cidadania, em suas formas mais poéticas e nas suas formas mais plenas de Direitos.

Como reafirmado em Carta recente da ABORDA – Associação Brasileira de Redutoras e Redutores de Danos, não é admissível o reforço aos “discursos reacionários que consideram à Redução de Danos como uma estratégia duvidosa, e não a política oficial do Estado Brasileiro para o tratamento de questões relacionadas ao uso problemático de álcool e outras drogas, além de suas inestimáveis contribuições ao combate da epidemia de Aids e hepatites entre pessoas que usam drogas e suas redes sociais”.

Os recentes incidentes e questionamentos acerca da legitimidade, efetividade e eficácia da Redução de Danos, acompanhados a partir da proibição dos folhetos na Parada do Orgulho GLBT de São Paulo e na suspensão de apoio da Fapesp ao Projeto Baladaboa, voltados ao consumo de ecstasy, são inadmissíveis e configuram-se como um retrocesso sem igual.

Assinamos esse Manifesto em defesa da Redução de Danos, da saúde e da cidadania das pessoas que usam drogas, das políticas públicas justas e humanizadas que temos no nosso país, da nova lei sobre drogas, dos decretos e leis municipais que regulamentam a Redução de Danos, da Política de Atenção Integral à saúde de usuários de álcool e outras drogas, enfim, de toda nossa história de construção de uma sociedade digna e democrática.

E que não precisemos outras vezes dizer o óbvio.

Brasil, junho de 2007.

INSTITUIÇÕES

• ABORDA – Associação Brasileira de Redutoras e Redutores de Danos
• REDUC – Rede Brasileira de Redução de Danos e Direitos Humanos
• ABGLT – Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais – ABGLT
• Ipê Rosa
• Coletivo Princípio Ativo
• Instituto Papai
• REPARE - Rede Paranaense de Redução de Danos
• BEMFAM – Bem Estar Familiar
• GAPA Rio Grande
• Grupo Hipupiara Integração e Vida
• Centro de Prevenção às Dependências
• P!M – Programa Integrado de Marginalidade
• Rede de Usuários de Drogas do Estado do Rio Grande do Sul
• Themis Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero
• Centro de Convivência É de Lei

PESSOAS

• Liandro Lindner – Jornalista - Consultor do Programa Nacional de Hepatites Virais
• Gabriela Felix Teixeira – Psicóloga – Voluntária do Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas
• Rubia Abs da Cruz - Advogada – Coordenadora Geral da Themis Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero
• Gilberta Acselrad – Mestra em Educação - Pesquisadora do Núcleo de Estudos Drogas, Aids e Direitos Humanos/Laboratório de Políticas Públicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
• Erica Vidal de Negreiros – Assistente Social
• Carlos Geraldo D'Andrea Gey Espinheira - Doutor em Sociologia - Professor e pesquisador da Universidade Federal da Bahia

SENAD PREMIARÁ PESQUISADORES SOBRE DROGAS

Curso Monográfico sobre Drogas