sábado, 16 de junho de 2007

Uma nova perspectiva


05/04/2007 às 10:42


Coletivo Balance

Tatiana Mendonça

Se beber, não dirija. E se for usar ecstasy, tome só a metade. Você prefere o Diga não às drogas? Pois tem um monte de gente que acredita que essa é uma guerra perdida. Porque desde o começo dos tempos o homem usa drogas, mesmo que a lei diga que é proibido. Porque acredita que as pessoas têm a liberdade de escolher de que maneira querem viver as suas vidas, e a abstenção é um dos caminhos, não o único.

A lógica se inverte e vira uma questão de aprender a lidar. Por isso, na próxima vez que você for a algum Universo Paralello, não se espante se alguém aparecer no meio da música barulhenta e te der um cartão escrito "Se for consumir, tome só a metade e, depois do efeito, decida se quer tomar a outra parte". Esse movimento tem nome: redução de danos. Fazer com que o uso de drogas não se torne abuso e seja o menos prejudicial possível à saúde. Sem moralismo.

Ele ganhou mais visibilidade  e apoio do governo  com o combate à Aids. "Aquela história de dar seringa descartável, né?", alguém vai dizer. Mas não começou aí, nem se resume a isso.

Primeiro, informar sobre os efeitos da droga. Depois, evitar o envolvimento precoce. Para os usuários, orientação para reduzir os prejuízos à saúde e evitar que se tornem dependentes. Para os dependentes, modificar o padrão de uso, oferecendo a possibilidade de substituição por drogas de uso menos danoso, sem excluir a possibilidade da abstinência.

O psiquiatra Luiz Alberto Tavares, do Centro de Estudos e Terapia do Abuso de Drogas [Ufba], explica melhor essa história. "Não é chegar para o usuário e dizer: Troque o crack pela maconha. O que fazemos é facilitar a escolha por drogas menos danosas. A abstinência não é a condição para o tratamento, mas pode ser um fim. Existem pessoas que não querem deixar de usar drogas, e elas continuam tendo direitos".

Para o antropólogo e pesquisador do Cetad Edward MacRae, o uso está ligado a um desejo de transgressão, enquanto as campanhas tentam convencer pela repressão. "É mais eficaz chegar de uma forma compreensiva, dialogar. Por que ao invés de fazer assim você não faz assado, pra você não se perder na sua curtição?".

Vítima - A imagem que se tem das pessoas que usam drogas é que são viciados que não conseguem se controlar. Então como seriam capazes de reduzir danos? Para Luiz, os usuários tendem a ser vistos pela lógica da culpa, do desvio social ou da vitimização. "Aqui nós trabalhamos com a responsabilização do sujeito, que responde pelo seu caminho e por seus desejos".

Para Edward, é preciso considerar as dimensões sociais e psicológicas do uso de drogas. "Não dá pra só falar em compulsão. Muitas vezes é curtição mesmo. Sem esquecer que determinados padrões de comportamento persistem, é o controle social informal que opera. A redução de danos trabalha nessa lógica, do controle pelos amigos, familiares, vizinhos".

No imbróglio que é a questão das drogas no Brasil, enquanto uns fingem que não vêem e outros morrem de verdade, os redutores muitas vezes são confundidos com incentivadores. Mas a Secretaria Nacional Antidrogas já reconheceu seu papel como agentes de saúde.

>> Balance monitora cena trance

No meio da música altíssima, do monte de gente ligada horas [dias] a fio, invariavelmente está o stand do Coletivo Balance, pioneiro na cena eletrônica do País. O que eles fazem? Redução de danos.

No Universo Paralello [rave que durou sete dias e reuniu 10 mil pessoas no reveillón de 2007, em Pratigí, BA], eles pegaram seus banners, filmes e cards para participar da festa. As orientações vão de "use protetor solar" e "beba água", conselhos de qualquer mãe, até o "tome só a metade".

O coletivo começou no meio do ano passado, a partir da pesquisa de doutorado de Marcelo Andrade, que está estudando o uso de substâncias psicoativas na cena trance. E para fazer jus ao nome, reúne DJs, produtores, profissionais da área de saúde, antropólogos.

Além de informar sobre o uso de drogas, lícitas e ilícitas, eles atendem, nos postos de saúde, as bad trips, pessoas com quadros psíquicos de ansiedade aguda e estados dissociativos. "Mas o número de gente muito alterada é bem pequeno. No Universo Paralello não chegou nem a 10", diz Marcelo.

>> Governador quer legalizar drogas

Legalize já. Marcelo D2? Não, Sérgio Cabral, governador do Rio. Em entrevista à Época [26/03], Cabral disse que o efeito da proibição da droga é "devastador" nos países pobres. "Se a gente for quantificar os mortos por conta da proibição da droga, o total é esmagadoramente maior do que os mortos por conta do uso da droga", argumentou.

Para Edward, a criminalização do uso de drogas teve o efeito de baixar a idade de uso. "Em 1900, os usuários eram as pessoas de meia-idade, da classe média. A criminalização foi a porta para a rebeldia da juventude. A relação com o mundo depende da forma como as coisas são apresentadas".

Em maio, Salvador sedia a Marcha Mundial pela Regulamentação da Maconha. A primeira edição foi em 1999, em Nova York. Vale lembrar que a nova lei não descriminaliza o uso. Só deixa de prever a prisão como pena.


2 comentários:

Unknown disse...

Parabéns pela iniciativa!!

http://psyte.uol.com.br/redacao/noticias/noticia.asp?seq=1995

Abs,

Paulo Henrique - www.psyte.com.br

um mundo de idéias. disse...

parabens pelo trabalho!
o que a sociedade precisa é de seriedade e uma visao realista do problema.
Chega de ideias arcaicas, de preconceito, de hipocrisia.