sexta-feira, 27 de junho de 2008

Análise: conscientização é mais eficiente que repressão às drogas, diz médico

Aproximadamente 208 milhões de pessoas, ou seja, 4,8% da população adulta do mundo, usaram drogas ilícitas ao menos uma vez em 2007. Metade delas usou pelo menos uma vez ao mês e, em média, cerca de 200 mil usuários morreram no ano passado em conseqüência do consumo de drogas. Depois dos Estados Unidos, o Brasil é o maior consumidor de cocaína das Américas. No país, já são 870 mil os usuários da droga, 600 mil consomem ópio e cerca de três milhões são usuários de maconha. Os dados foram revelados nesta quinta pelo escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime.
"Legalizar é solução para quem quer consumir ou vender"
Para o médico psiquiatra Ricardo Amaral, integrante do Grupo de Estudos de Álcool e Drogas, do Hospital das Clínicas, da USP (Universidade de São Paulo) falta repressão ao tráfico.Entretanto, ele não aponta o aumento da repressão ao crime como solução para diminuir o consumo. Amaral também descarta que a legalização das drogas ajude a solucionar o problema."Se nós legalizarmos as drogas, vamos legalizar o consumo, que é o nosso problema. As substancias levam as pessoas a ter problemas. A legalização pode ser solução para quem quer consumir mais fácil, para quem quer vender mais fácil, mas não para quem quer tratar. Para quem está preocupado com a saúde delas [dos usuários], a legalização não é a principal alternativa. Já a questão da repressão envolve aspectos políticos e policiais", afirmou o médico. Segundo Amaral, levar informação para as pessoas é a melhor solução. "Levar questões que permitam que as pessoas repensem o seu comportamento e reavaliem o que estão fazendo. O nosso papel é controlar o que está se passando, observar algumas ações e criticar algumas ações", declarou citando como bom exemplo a nova lei que restringe o consumo de álcool para quem dirige.
Saiba mais
208 milhões de pessoas no mundo são usuárias de drogas, aponta relatório da ONU
Consumo de maconha no Brasil cresce 160% em 4 anos e é o maior da AL, diz ONU
ONU alerta que Afeganistão pode ter superado o Marrocos no cultivo de maconhaAmaral afirma ainda que é fácil encontrar e comprar drogas no país. "A pessoa já conhece e, de alguma forma, já tomou contato com o universo e já se tornou uma usuária que vai atrás da substância, ou seja, conhece todas as condições de acesso à droga. Nós temos que pensar nas pessoas que ainda não conhecem e que vão, provavelmente, se interessar por esse assunto. Tem que haver um trabalho de prevenção", afirmou.A cocaína é a droga ilícita que mais motivou procura por tratamento no Brasil, de acordo com o médico. "Nós temos uma série de complicações crônicas de saúde relacionadas ao uso de cocaína, de maconha e de produtos anfetaminicos, como solventes e colas", disse, lembrando que o álcool e o tabaco ainda são os maiores responsáveis pela perda de anos saudáveis na vida dos brasileiros. Amaral prega que as campanhas publicitárias de combate ao consumo de drogas, devem ter como enfoque não somente a dependência química, mas também os problemas de saúde e os efeitos tóxicos das substâncias. "Há um consumo maior nas pessoas com idade entre 20 e 30 anos. Depois disso começa a haver um declínio", declarou.O médico ainda alerta para o aumento de consumo de drogas sintéticas. "As pessoas estão comprando substancias produzidas em laboratório, achando que estão comprando um produto seguro, um comprimido. Na verdade, não há controle sobre essas substâncias, sobre o quanto de droga estão consumindo", disse. "Os médicos também devem ser sensibilizados para conter a prescrição de derivados anfetaminicos", completou.

Veja na integra no UOL

Nenhum comentário: